sábado, 1 de fevereiro de 2014

O Pranayama–Shiva Samhita


22. Em seguida, deixe o sábio praticante fechar com seu polegar direito a entrada de pingala (narina direita), inspirar o ar através de ida (a narina esquerda), e reter a respiração – suspendendo seu alento – o quanto ele puder; e depois deixe-o expirar lentamente, e sem esforço, através da narina direita (pingala). (NT. Os outros tratados, Hatha Yoga Pradipika e Gheranda Samhita, ensinam que a retenção do ar deve ser gradual, até que o yogue consiga atingir naturalmente o estado de kevala do kumbhaka na retenção, ou seja, a suspensão sem qualquer esforço do alento).


23. Novamente, deixe-o inspirar através da narina direita, reter a respiração tanto quanto sua força permite. Em seguida, deixe-o expelir o ar através da narina esquerda, sem esforço, mas lenta e gentilmente.


24. De acordo com o método de yoga acima, deixe-o praticar vinte kumbhakas (retenção da respiração). Ele deve praticar diariamente sem negligencia ou preguiça, e livre de todos os conflitos (do amor e do ódio, e dúvida e discórdia), etc.


25. Estes kumbhakas devem ser praticados quatro vezes – uma vez no início da manhã, ao nascer do sol, a segunda vez ao meio-dia, a terceira vez ao pôr do sol e a quarta vez à meia-noite. (NT. O mesmo procedimento é instruído nos tratados acima já mencionados)


26. Quando isto tem sido praticado diariamente, por três meses, com regularidade, as nadis (NT. Caminhos por onde flui o prana) do corpo, rápida e prontamente são purificadas.


27. Quando, por esse meio, as nadis da percepção da verdade do yogue são purificadas, então seus defeitos são todos destruídos. Ele entra no primeiro estágio na prática do yoga, chamado Arambha.


28. Certamente os sinais são percebidos no corpo do yogue cujas nadis foram purificadas. Descreverei brevemente todos estes vários sinais.


29. O corpo da pessoa praticante do controle da respiração se torna harmoniosamente desenvolvido, emite doce aroma, e parece bonito e adorável. Em todos os tipos de yoga, existe quatro estágios do pranayama – 1: Arambha-avastha (o estágio inicial); 2: Ghata-avastha (o estágio de cooperação do ego com o mais elevado Ser; 3: Parichaya-avastha (conhecimento); 4: Nishpatti-avastha (a consumação final).


30. Nós já temos descrito o início de Arambha-avastha do pranayama; o restante será descrito posteriormente; Eles destroem todo o pecado e tristeza.


31. As seguintes qualidades certamente são sempre encontradas nos corpos de cada yogue – forte apetite, boa digestão, alegria, uma imagem bonita, grande coragem, entusiasmo e força plena.


32. Agora vos direi dos grandes obstáculos ao yoga, os quais devem ser evitados. Como pela remoção deles, os yogues atravessam esse mar de tristeza do mundo.

Absorção ou Involução–Shiva Samhita


78. A terra se torna sutil e é dissolvida na água; a água é dissolvida no fogo; o fogo, igualmente, imerge no ar; o ar é absorvido no éter, e o éter é absorvido em avidya (ignorância), o qual imerge no Grande Brahma. (a prática desta visualização está descrita num tratado de tantra yoga, onde o objetivo é visualizar os bhuttas, ou elementos, sendo dissolvidos no sentido inverso ao de sua emanação. Há também um exercício de bhutta shuddhi, cujo objetivo é a preparação do yogue para o despertar de Kundalini).


79. Há duas forças – viksepa (a energia da expansão) e avarana (a energia transformadora) os quais são de grande potencialidade e poder, e cuja forma é a felicidade. A grande maya, quando não-inteligência e nem matéria, tem três atributos: sattva (ritmo), rajas (energia) e tamas (inércia).


80. A forma não-inteligente de maya, revestida pela energia de avarana (transformação), manifesta-se como o universo, devido à natureza da força de viksepa.


81. Quando, em avidya, tem um excesso de tamas (inércia), então ela manifesta-se como Durga: a Inteligência que preside sobre Ela é chamada Ishvara. Quando, em avidya, manifesta-se um excesso de sattwa (equilíbrio), ela se manifesta como a doce Lakshmi; a Inteligência que preside sobre Ela é chamada Vishnu.


82. Quando, em avidya, tem um excesso de rajas (movimento) , manifesta-se como a sábia Saraswati; a Inteligência que preside sobre ela é conhecida como Brahma.


83. Deuses como Siva, Brahma, Vishnu e os demais, são todos percebidos no grande Espírito (Paramatma); os corpos e todos os objetos materiais são os diversos produtos de avidya.


84. O sábio assim explicou a criação do mundo – tattwas (elementos) e não-tattwas (não-elementos) são assim produzidos – e não o contrário.


85. Todas as coisas são percebidas como finitas (dotadas de qualidades e outras características) , e surgem várias distinções somente através das palavras e dos nomes; mas não há nenhuma diferença real.


86. Por conseqüência, as coisas não existem; o Grande e Glorioso Um, que se manifesta através delas, unicamente existe; conquanto as coisas sejam falsas e irreais, contudo, como o reflexo do real, elas, por enquanto, parecem reais.


87. A Entidade Única, beatífica, completa e todo penetrante, existe sem outro igual, e nada mais; quem constantemente compreende este conhecimento, liberta -se da morte e do sofrimento da roda do mundo (samsara, o ciclo de nascimentos e mortes).


88. Quando, através do conhecimento de que tudo é uma percepção ilusória (aropa) e refutação inteligente (apavada) das outras doutrinas, este universo é determinado em um; então, além daquele Um nada mais existe.

Emanação ou Evolução–Shiva Samhita


69. O Senhor desejou criar suas criaturas ; de Si proveio avidya (ignorância), a mãe deste universo falso.


70. Desse modo ocorreu a combinação entre o Puro Brahma (ParamBrahman) e avidya, do qual surgiu Brahma (o Criador), do qual proveio o akasa.


71. Akasa emanou o ar; do ar surgiu o fogo; do fogo – água; e da água veio a terra. Esta é a ordem da emanação sutil.


72. Do éter, ar; do ar e éter combinados veio o fogo; do composto triplo de éter, ar e fogo veio a água; da combinação de éter, ar, fogo e água foi produzido a terra.


73. A qualidade sutil do éter é o som; do ar, o movimento e o toque. A forma é a qualidade do fogo; e o gosto, da água. Não há como negar isto.


74. Akasa tem uma qualidade sutil; ar, duas; fogo, três; água, quatro; e terra, cinco qualidades. Ou seja, som, tato, paladar, forma e cheiro. Isto tem sido declarado pelos sábios.


75 – 76. A forma é percebida através dos olhos, o cheiro através do nariz, o gosto através da língua, o toque através da pele e o som através do ouvido. Estes são, de fato, os órgãos da percepção.


77. Da Inteligência proveio todo este universo, móvel e imóvel; queira ou não a sua existência pode ser demonstrada, o “Todo Inteligência” é Única Causa.

Karmakanda – Shiva Samhita


20. Existem dois sistemas (como encontrado nos Vedas). Karmakanda (ritualismo) e jñanakanda (sabedoria). Jñanakanda e Karmakanda são novamente subdivididos, cada um, em duas partes.
21. O Karmakanda é duplo – consiste de prescrições e proibições.
22. Atos proibidos quando são feitos, certamente levam ao pecado; a realização dos atos prescritos, certamente resultam em méritos.
23. As prescrições são de três tipos – nitya (regulares), naimittika (ocasionais), e kamya (opcionais).
Pela não realização de nitya, ou os ritos diários, advém o pecado; mas pela realização delas, nenhum mérito é adquirido. Por outro lado, os deveres ocasionais e opcionais, se feitos ou deixados de fazer, produzem méritos ou deméritos.
24. Frutos de ações são de dois tipos – céu ou inferno. Os céus são de vários tipos, e assim também são os diversos infernos.
25. As boas ações são, na verdade, o céu, e os atos pecaminosos são verdadeiramente o inferno; a criação é o resultado natural do karma e nada mais.
26. As criaturas desfrutam de muitos prazeres no céu; muitos sofrem dores insuportáveis no inferno.
27. Os atos pecaminosos resultam em dor; os atos bondosos, em felicidade. Por causa da felicidade, os homens constantemente realizam boas ações.
28. Quando os sofrimentos pelas más ações são expiados, então acontece o renascimento certamente;
quando os frutos das boas ações têm sido esgotados, em seguida também, verdadeiramente, o resultado é o mesmo.
29. Até mesmo no céu há a experiência de dor ao ver o maior prazer dos outros ; verdadeiramente, não há dúvida de que todo este universo está cheio de tristeza.
30. Os classificadores do Karma dividiram-no em duas partes, boas e más ações. Elas são a verdadeira escravidão da alma encarnada, cada um por sua vez.
31. Aqueles que não estão preocupados em desfrutar os frutos de suas ações neste ou no próximo mundo, devem renunciar a todas as ações que são feitas com intenção em seus frutos, e tendo igualmente descartado o apego em relação às ações diárias naimittika, deve empregar-se na prática de Yoga.

Jñanakanda – Shiva Samhita

 

32. O Yogue sábio, tendo realizado a verdade de karmakanda (trabalhos ritualísticos), deve renunciar a eles; e tendo deixado ambos, virtude e vício, ele deve se engajar em jñanakanda (conhecimento).

33. Os textos Védicos, - “O espírito deve ser visto”, - “Sobre isso deve-se ouvir”, etc., são os reais salvadores e doadores do conhecimento verdadeiro. Eles devem ser estudados com muito cuidado.

34. Eu Sou a Inteligência, o qual estimula as funções para os caminhos da virtude (mérito) ou do vício (demérito). Todo este universo, móvel e imóvel, provém de Mim; todas as coisas são preservadas por Mim; tudo é absorvido em Mim (no tempo de pralaya, dissolução final ); porque nada existe a não ser o espírito, e Eu Sou esse espírito – não existe nada além disto.

35. Assim como em muitas vasilhas cheias de água, muitos reflexos do sol são vistos, mas a substância é a mesma; semelhantemente as pessoas, assim como as vasilhas, são inumeráveis, mas o espírito vivificante (paramatma), como o sol, é um.

36. Assim como em um sonho, a alma cria muitos objetos por mera vontade, mas ao despertar todas as coisas desaparecem, muito embora a alma seja única, assim é este universo.

37. Assim como através da ilusão, uma corda se parece com uma serpente, ou uma concha de madrepérola se assemelha com a prata, semelhantemente todo este universo está sobreposto no Paramatma (o Espírito Universal).

38. Assim como, quando o entendimento da corda é obtido, a noção equivocada de que seja uma cobra não permanece, assim também pelo despertar do entendimento de mim, desaparece este universo baseado na ilusão.

39. Assim como, quando o entendimento da madrepérola é obtido, a noção equivocada de que seja prata não permanece, assim também, através do entendimento do espírito, o mundo sempre parece uma ilusão.

40. Assim como, quando um homem besunta suas pálpebras com o colírio preparado da gordura da rã, um bambu se parece com uma serpente, assim o mundo aparece no Paramatma, devido ao pigmento ilusório do hábito e da imaginação.

41. Assim como através do entendimento da corda a serpente parece uma ilusão; semelhantemente, através do entendimento espiritual, o mundo parece uma ilusão. Assim como através dos olhos icterícios, o branco parece amarelo; semelhantemente, através da doença da ignorância, este mundo aparece no espírito – um erro muito difícil de ser removido.

42. Assim como quando a icterícia é removida, o paciente vê a cor como ela é, assim também quando a ilusão da ignorância é destruída, a natureza verdadeira do espírito se manifesta.

43. Assim como uma corda não pode se tornar uma cobra, no passado, no presente ou no futuro, assim também o espírito, o qual está além de todos os gunas, e o qual é puro, jamais se torna o universo.

44. Alguns homens sábios, muito bem versados nas Escrituras, recebendo o conhecimento do espírito, têm declarado que mesmo os Devas como Indra etc., são não-eternos, sujeitos ao nascimento e à morte, e passíveis de destruição.

45. Como uma bolha no mar se eleva por meio da agitação do vento, este mundo transitório surge do Espírito.

46. A Unidade existe sempre. A diversidade não existe sempre; chega um momento em que ela cessa: duas vezes, três vezes, e a multiplicidade se nota somente através da ilusão.

47. O que quer que foi, é ou será, seja forme ou informe, em suma, todos es se universo está sobreposto no Espírito Supremo.

48. Sugerido pelos Senhores da idéia a partir de avidya. Isto é nascido da mentira, e sua verdadeira essência é irreal. Como pode este mundo com semelhantes princípios (fundamentos) ser verdade?