Os aspirantes que almejam sinceramente a experiência mística direta devem certamente começar pela disciplina da “Yoga do Sonho”.
É claro que o Gnóstico deve ser exigente consigo mesmo e aprender a criar condições favoráveis para a recordação e compreensão de todas essas experiências íntimas que acontecem sempre durante o sonho.
Antes de nos deitarmos para o descanso dos esforços e fadigas da vida diária, convém dar a devida atenção ao estado em que nos encontramos.
Os devotos que, devido às circunstâncias, levam vida sedentária, realmente nada perdem e muito ganharão se, antes de se deitarem, derem um breve passeio a passos rápidos e ao ar fresco. Esse passeio relaxará seus músculos.
Entretanto, convém esclarecer que jamais devemos abusar dos exercícios físicos; precisamos viver harmoniosamente. A ceia, jantar ou refeição final do dia deve ser leve, sem alimentos pesados ou estimulantes, evitando-se cuidadosamente a ingestão de comidas ou bebidas que possam nos tirar o sono.
A forma mais elevada de pensar é não pensar; quando a mente está tranquila e em silêncio, livre das preocupações do dia e das ansiedades mundanas, encontra-se então em um estado cem por cento favorável para a prática da Yoga do Sonho.
Quando o Centro Emocional Superior trabalha realmente, acaba, ainda que só por breve tempo, o processo do pensar.
É evidente que o referido Centro entra em atividade com a embriaguez dionisíaca.
Esse arrebatamento é possível ao se escutar com infinita devoção as sinfonias deliciosas de Wagner, Mozart, Chopin e outros.
A música de Beethoven, muito especialmente, é extraordinária para fazer vibrar intensamente o Centro Emocional Superior.
O Gnóstico sincero encontra nela um imenso campo de exploração mística, porque não é música de formas mas de idéias arquetípicas inefáveis; cada nota tem seu significado; cada silêncio, uma emoção superior.
Beethoven, ao sentir tão cruelmente os rigores e provas da “noite espiritual”, ao invés de fracassar, como muitos aspirantes, foi abrindo os olhos de sua intuição ao Supernaturalismo misterioso, à parte espiritual da Natureza, a essa região onde vivem os Reis Angélicos desta grande Criação Universal: Tlaloc, Ehecatl, Huehueteotl, etc.
Vejam o “Músico-Filósofo” ao longo de sua vida exemplar: sobre sua mesa de trabalho
tem constantemente à vista sua Divina Mãe Kundalini, a inefável Neith, a Tonantzin de
Anahuac, a Suprema Ísis egípcia. Disseram-nos que esse Grande Mestre havia colocado aos pés daquela imagem adorável uma inscrição redigida pelo próprio
punho, que dizia misteriosa: “Eu sou a que foi, é e será, e nenhum mortal levantou meu véu”.
O progresso íntimo revolucionário tornase impossível sem o auxílio imediato de nossa
Divina Mãe Tonantzin. Todo filho agradecido deve amar sua Mãe; Beethoven amava profundamente a sua. Fora do Corpo Físico, nas horas do sono, a alma pode conversar com sua Divina Mãe; mas é evidente que devemos começar com a disciplina da Yoga do Sonho.
Precisamos dedicar atenção ao quarto em que vamos dormir; a decoração deve ser agradável; as cores mais desejáveis para os fins que se perseguem - a despeito do que outros autores aconselham - são precisamente as três tonalidades primárias: azul, amarelo e vermelho.
Indubitavelmente, as três cores básicas correspondem sempre às três forças primárias da natureza (o Santo Triamazikamno), isto é, o Santo Afirmar, o Santo Negar e o Santo Conciliar.
É bom lembrar que as três formas originais desta grande Criação cristalizam-se sempre de forma positiva, negativa e neutra.
A “Causa Causorum” do Santo Triamazikamno encontra-se oculta no elemento ativo Okidanokh; este, em si mesmo, é tão só a emanação do Sagrado Absoluto Solar.
É óbvio que a repulsa às três cores primárias, depois da exposição de todas essas razões, equivale, por simples dedução lógica, a cair em um despropósito, em um desatino.
A Yoga do Sonho é extraordinária, maravilhosa, formidável; entretanto, é muito exigente. O quarto deve estar sempre bem perfumado e arejado, mas não se deve deixar nele penetrar o sereno frio da noite. O Gnóstico, depois de uma revisão detalhada de si mesmo e do quarto em que irá dormir, deve examinar sua cama.
Se observamos qualquer bússola, podemos verificar por nós mesmos que a agulha aponta para o Norte.
É claro que podemos aproveitar conscientemente essa corrente magnética do mundo, que flui sempre de Sul a Norte.
Orientemos a cama de forma tal que a cabeceira fique sempre voltada para o Norte; assim, poderemos usar inteligentemente a corrente magnética indicada pela agulha.
O colchão não deve ser nem muito duro nem muito macio; quer dizer, deve ter uma flexibilidade tal que não afete de modo algum os processos psíquicos de quem dorme.
Os chiados das molas ou uma cabeceira que range ao menor movimento do corpo constituem um sério obstáculo para essas práticas.
Coloca-se sob o travesseiro um caderno ou um bloco de anotações e um lápis, para que possam ser facilmente encontrados no escuro.
As roupas de cama devem ser frescas e muito limpas, e deve-se perfumar a fronha com a fragrância preferida.
Depois de cumprir todos esses requisitos, o asceta Gnóstico dará o segundo passo desta disciplina esotérica.
Deitar-se-á e, tendo apagado a luz, se colocará em decúbito dorsal (de barriga para cima), com os olhos fechados e as mãos sobre o plexo solar.
Ficará completamente quieto durante alguns instantes e, depois de estar relaxado totalmente, tanto física como mentalmente, concentrar-se-á em Morfeu, o Deus do Sono e dos Sonhos.
É inquestionável que cada uma das partes isoladas do nosso Ser Real exerce determinadas funções, e é justamente Morfeu (não confundir com Orfeu) o encarregado de nos educar nos Mistérios do Sonho.
Seria totalmente impossível traçar um esquema do Ser; mas todas as diversas partes espiritualizadas de nossa “presença comum” desejam a perfeição absoluta de suas funções. Quando nos concentramos em Morfeu, este se alegra pela brilhante oportunidade que lhe oferecemos. É indispensável ter Fé e saber suplicar; devemos pedir a Morfeu que nos esclareça e nos desperte nos Mundos Supra-sensíveis.
A esta altura, uma sonolência bastante especial começa a apoderar-se do Gnóstico esoterista, e ele então adota a Postura do Leão.
“Deitado sobre seu lado direito, com a cabeça dirigida para o Norte, puxa as pernas para cima lentamente até que os joelhos fiquem dobrados. Nesta posição, a perna esquerda apoia-se sobre a direita; a seguir, coloca a face direita sobre a palma da mão direita e deixa o braço esquerdo descansar sobre a perna do mesmo lado”.
Quando despertamos do sono normal, não devemos nos mexer, porque, com tal movimento, é claro que nossos “valores” se agitam e perdem-se as lembranças. O exercício retrospectivo torna-se, sem dúvida, necessário nesses instantes, quando desejamos recordar com total precisão todos e cada um de nossos sonhos.
O Gnóstico deve anotar metodicamente os detalhes do sonho ou sonhos no caderno ou no bloco colocado sob o travesseiro para este fim. Assim poderá ter um registro minucioso sobre seu progresso interno na Yoga do Sonho.
Ainda que restem na memória apenas vagos fragmentos do sonho ou sonhos, estes devem ser cuidadosamente registrados. Quando nada permaneceu na memória, devemos iniciar o exercício de retrospecção com base no primeiro pensamento que tivemos no instante exato em que acordamos; obviamente, aquele pensamento está intimamente associado ao último sonho. Precisamos esclarecer solenemente que o exercício de retrospecção principia antes de havermos retornado completamente ao estado de vigília, quando ainda nos encontramos no estado de sonolência, cuidando de seguir conscientemente a seqüência do sonho. A prática do exercício se inicia sempre com a última imagem que tivermos percebido instantes antes de voltar ao estado de vigília.
Terminamos este capítulo afirmando solenemente que não é possível ir além desta parte relacionada com a disciplina da Yoga do Sonho, a menos que tenhamos conseguido a memória perfeita de nossas experiências oníricas.
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