domingo, 2 de janeiro de 2011

A BARGANHA

fauto e o diabo,1850

Sua forma bela aos olhos, com um perfume de maravilhoso aroma, um sabor insaciável. Tudo que é perfeito aos sentidos. As proporções, as medidas, as curvas, como resistir a tal barganha? O Diabo sempre quer nos comprar com maçãs podres.

bruxa1 A criatura mais vil e ardilosa se veste com os trajes da santidade, da bondade. Tudo é belo, dentro de sua hipocrisia, falsa e astuta. O pai sempre acha seu filho o melhor de todos. Um santo virtuoso, sempre buscando esconder a verdade por trás de belas roupagens, atrás de qualquer crença que o console. A verdade é que somos pais de um aborto, do próprio diabo, do qual vestimos com as melhores, a mais elevada das vestimentas, a religião. Sem o diabo, sem o Satã, a religião não existiria. Se Deus eliminasse o Diabo, se o destruísse não existiria religião, não existiria redenção. Não haveria o porquê da queda, do sacrifício para purificação dos pecados. Não existiria bem nem mal. Então o que haveria?

perrault31 Ao barganhar com o Diabo em troca de riqueza, deve-se fazer um sacrifício, deve se dar uma criatura pura pelos desejos mais obscuros. O Sol, o Cristo todos os dias realiza o supremo sacrifício voluntariamente. Ele imortal é imolado no ocidente afim de que a criação permaneça com vida, então as sombras assumem o poder, rastejam trazendo sua legião de criaturas amaldiçoadas, criaturas que inconscientemente tememos. Os mais corajosos se lançam a batalha contra as trevas contra os monstros e quando menos percebem já se acostumaram tanto com as sombras e as trevas, que amaldiçoam a luz, pois essa o cega, tornou se mais obscura que a própria noite de lua nova. Converteu-se também num monstro, num Demônio, apesar de suas mais elevadas intenções. Sobre tudo isso o sábio se cala.

the-devil-tarot-card O diabo é uma criação do próprio homem, é a própria escuridão no homem. É o seu filho mais amado, colocado sobre um pedestal e adorado como a divindade. Esse diabo, com cornos, patas de bode e cauda pontiaguda, não existe senão no imaginário do próprio homem. Paradoxalmente se o diabo é criação do próprio homem, Deus é, também, uma criação do próprio homem. Um Deus absurdo e criado hipoteticamente a servir um propósito pessoal e diabólico. Se Deus é a Luz a organização, o Diabo é as trevas e a desordem. O que é natural não pode ser bom nem mal, mas sim participa da organização e ordem da própria criação. O Sol nasce e morre todos os dias, a eterna fênix que sustenta o sagrado mistério da criação. Deus está longe de ser qualquer forma, mesmo se expressando na forma.

A forma é o percebido pelos cinco sentidos, é a condensação do verdadeiro como uma imagem tosca e imperfeita da realidade. Como um artista que cria a mais bela escultura, perfeitamente idêntica, em forma, ao próprio homem, porem esta não é o homem e nem é dotada da vida do homem, seus movimentos, porém sua beleza encanta e eleva os sentimentos, não é o homem a mais elevada de todas as criaturas, a imagem viva de deus? Onde está sua beleza? As pessoas mais belas em aparência física, comumente, são as mais toscas em valores espirituais, em valores morais. Num dialogo Socrático, o Cristo dos filósofos, dado no celebre livro de Platão “Fedon”, Socrates questiona a Símias: Se o verdadeiro afã do filosofo é a morte, pois com ela a alma ficaria livre dos cinco sentidos, do próprio corpo físico, encontrando a verdade. Aclarando que a verdade não está nas formas, mas na experiência da alma em si mesma evitando qualquer troca, qualquer comercio, com o corpo. Já que a maior parte dos conceitos que temos em vida foram formulados a partir de experiências adquiridas pelos cinco sentidos, certamente todos os nossos conceitos por mais elevados que sejam não condizem com a verdade. Nossos conceitos, dogmas, crenças, não são senão aquele filho tosco que concebemos e adoramos, colocando belas roupagens. Sempre justificando nossos erros, sempre dando uma beleza no que é falso e vergonhoso. Ficamos, depois de muitos séculos, acostumados com a hipocrisia e já não temos mais vergonha de nos equivocar, de errar. Todos os nossos erros, todo o mal que causamos fantasiamos de caridade para aliviar nossos pesares, todas nossas falsas verdades são este diabo fantasiado de santo. Nosso bezerro de ouro.

temple-of-horus-edfu-egy127 Quando a substancia cristonica, pelo mistério da epifania se tornou carne nos disse: “Conheceis a verdade e verdade vos libertará”. A verdade não está no que os cinco sentidos, sensuais, podem nos oferecer, sendo assim, não pode estar sendo absorvida como uma verdade imbatível pelo sentido da visão. Qualquer escritura por mais sagrada que seja, não pode exprimir a totalidade da verdade, senão um ponto de apoio onde possamos encontrar através da intuição, da consciência a verdade do mundo espiritual o que muitas vezes não condiz com o mundo material. A filosofia hindu nos diz sobre o samadhi onde a alma se liberta dos conceitos formulados pelos cinco sentidos e encontra um êxtase esplendoroso, um regozijo de conhecer a verdade além da forma, então dependendo do grau, tudo ocorre de uma só vez, sentimento, razão, visão, formulas, sons e no fim a compreensão. Sendo praticamente impossível de ser descrita num mundo tão limitado a experiência que até o mais elevado dos poetas não o conseguiria fazer-lo. Esse processo de encontro com a realidade, com a verdade espiritual é chamada de gnosis, ou gnana para os hindus. É uma verdade impossível de ser dita, por isso o sábio se cala.

Assim no que cremos? No que acreditamos? O passado, o que já aconteceu, está à mercê da infiel memória. Do futuro nada sabemos, senão que colheremos o que plantamos, mas como sabemos muito pouco do passado, muito pouco sabemos do que plantamos, pouco saberemos o que colheremos. O Presente, o momento... A recepção das impressões pelos sentidos, interpretados por conceitos preestabelecidos, por dogmas, crendices, como se tudo fosse uma eterna repetição, onde só as enquadramos em idéias pré-concebidas. Como lutador que reage instintivamente, sem pensar ou refletir, sob a pressão do movimento do oponente, dizendo sim ou não, isso é certo ou errado de acordo com nossas justificativas. Como podemos dessa forma ser conhecedores da verdade? Uma criança vê a diferença em cada momento de sua vida, em cada animalzinho, não é a toa que sentimos que vivemos muito mais quando éramos crianças, pois quando crianças cada experiência era única, inigualável, infelizmente os pais com suas monstruosidades fazem muitas crianças viverem num verdadeiro inferno, fazendo com que essa curiosidade, essa vida que existe nas crianças seja apagada e os transforme em engrenagens do sistema, com uma mente caduca e endurecida por diversos falsos conceitos, como seus pais.

Acreditar, por que então acreditar? Acreditamos no bem supremo, na ordem suprema, na vitoria do espírito sobre a matéria, pois assim nos conduzimos de acordo com os preceitos pessoais de alguém que busca a sua própria felicidade, com nossa própria filosofia, do por que ajo desta forma, qual é o motivo desse pensamento?Esse não deve e não pode brigar por conceitos, pois isso seria sua prisão, ser livre e acreditar no que é melhor para si mesmo e para seus semelhantes, vivendo em harmonia com a lei de ação e reação, com o Nêmesis, com o Karma, ou o com o conceito que melhor preferirmos. Paracelso Ninguém melhor para ilustrar que Paracelso:

- A inteligência deve se anular um pouco para que possamos deixar que a natureza “entre” em nós, deixar com que o homem fique disponível para não obstaculizar a entrada da natureza e a iluminação do espírito humano.

- “É preferível falar em ninfas do que em acontecimentos sociais: em gigantes, do que em frivolidades cortesãs; em melusina, do que em cavalaria e artilharia; em gnomos, do que em esgrima e damas. É melhor tratar de coisas divinas do que se ocupar com maneiras mundanas, usos e costumes da corte e outras futilidades”.

Referencias:

O Grande Arcano – Eliphas Levi

Educação Fundamental – Samael Aum Weor

Psicologia Revolucionaria – Samael Aum Weor

Fedron (Fedão) - Platão

Fr Gemini

AGAPHE

21.’.21.’.21.’.

02/01/2011

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