por Clélio Berti
Os drávidas viveram no noroeste da Índia, hoje Paquistão, há mais de 5.000 anos. Desenvolveram uma cultura fantástica. Para se ter uma dimensão, a cidade de Mohenjo-Daro era habitada por 40.000 pessoas. As ruas eram planejadas formando quarteirões em ângulo reto. As ruas principais tinham largura de 13,5 metros. Tinham sanitários dentro das residências com água corrente. Os esgotos eram cobertos. Dominavam a irrigação de lavouras.
Um fato particularmente importante foi a descoberta, nas escavações arqueológicas, de uma grande piscina. Quando os arqueólogos observaram a piscina, não conseguiram entender e, de imediato, pensaram em alguma destinação ritual. Não conseguiram conceber que há 5.000 anos atrás, um povo poderia construir um clube onde as pessoas iam banhar-se e divertir-se.
Talvez, por que as escavações deram-se no início do século e, na época, não eram comuns clubes para divertimento.
Outro fato intrigante, foi a ausência de templos suntuosos. As escavações de grandes civilizações até então conhecidas, tinham a presença de templos suntuosos e uma diferença significativa entre o poder dominante – nobreza e/ou clero – e o povo.
Os drávidas tinham um volume significativo de expressões artísticas.
Destaca-se a escultura e, dento dela, o volume significativo de esculturas femininas. Eles gostavam muito de esculpir mulheres. Embora, outras esculturas, tais como, animais, carroças, brinquedos etc fossem comum.
Novamente, a surpresa: não havia esculturas de deuses e/ou deusas. As mulheres apareciam, geralmente, nuas, cobertas apenas por jóias.
No universo dravídico, aparece também objetos de adorno, tais como, colares, pulseiras, tornozeleiras etc. A presença de vários dados de jogar e peças de xadrez permite-nos concluir que esse povo gostava do jogo.
Embora os arqueólogos não conseguissem compreender as razões dravídicas, os estudiosos de outras áreas, notadamente, os observadores das culturas materlineares, conseguiram compreender o universo dravídico.
Os drávidas desenvolveram três filosofias diferentes, porém complementares: o Sámkhya, o Yôga e o Tantra. Para o sânscrito, as palavras terminadas em “a”, geralmente são masculinas como as descritas.
O Sámkhya é uma filosofia especulativa. Tentava explicar a origem e o destino da vida. O interessante em observar, é a ausência do conceito de Deus. Ou seja, eles explicavam o universo sem conceber um criador.
Entretanto, não podemos afirmar que fossem ateus, pois o Sámkhya não afirma, mas também não nega a presença de Deus.
O Yôga é uma filosofia prática. Para os ocidentais, falar em filosofia “prática” soa sem sentido. Pois os drávidas já concebiam esse conceito. O Yôga dravídico não se explica, não se justifica. Faça determinada técnica e terá determinado resultado. Se você executar a técnica e não obtiver o resultado, deve ter feito algo errado.
O Tantra é uma filosofia comportamental. Explica como o homem relaciona-se consigo mesmo, com os outros seres humanos, com os animais e com a Natureza.
Essa relação está baseada na sensorialidade. Como resultado dessa relação, aparece o culto à deusa-mãe. A mulher tem conotações especiais, pois consegue perpetuar a vida, mas não só isso, pois a mulher também é uma fonte inesgotável de sensorialidade. É adorada como a expressão máxima, a expressão mais sofisticada da natureza. É a razão das esculturas femininas aparecem em quantidade muito superior às esculturas masculinas.
As três filosofias são dualistas no sentido em que procura-se transcender a dualidade para vivenciar a unidade. Com esses elementos, pode-se compreender facilmente a razão pela qual não havia templos suntuosos em Mohenjo-Daro. Pode-se compreender também a razão pela qual havia um número significativo de esculturas femininas nuas, de animais, de brinquedos, de jóias e não havia esculturas de deuses e/ou deusas. A piscina faz sentido.
extraido de: http://www.zantina.org/palestras/2005/dravida.htm
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